Data: 29 de Outubro de 2015, 17h – 18h30
Local: Auditório Fundação Champalimaud
Organização: CEAUL
Seguido de Lançamento do livro Creative Dialogues: Narrative and Medicine | 18h30 – 19h30
RESUMO: As narrativas de doença podem ser contadas de várias perspectivas, na maioria das vezes conflituosas entre si. À medida que as nossas capacidades narrativas se aperfeiçoam pela prática da Medicina Narrativa, conseguimos discernir melhor a natureza fragmentária dessas histórias. O que o corpo diz pode entrar em conflito com o que o doente diz. É comum que o que o médico ouve não esteja de acordo com aquilo que o doente conta.
Esta palestra descreverá modos de pensar acerca destes dilemas linguísticos e epistemológicos. Em primeiro lugar, darei exemplos de textos clínicos e literários em que o sentido não logrou cruzar a barreira entre médico e paciente. Tais situações ocorrem tão frequentemente nos cuidados de saúde que passam despercebidas. De seguida, partilharei com algum pormenor um caso clínico em que eu e um doente co-construímos uma explicação a partir de uma série de circunstâncias muito complexas em que o paciente se encontrava. Apoiando-me depois nos conceitos psicanalíticos de transferência e de objectos transicionais, proporei um modo de entender as falhas de compreensão crónicas que são um flagelo no dia-a-dia dos serviços de saúde.
Terminarei com a esperança de que, através do uso de meios narrativos, o clínico e o doente não venham a estar necessariamente condenados a ocupar lados antagónicos do processo comunicativo.